Água, energia, lixo, arborização e vizinhança são os eixos principais de uma relação mais sustentável do condomínio com o meio ambiente. A sustentabilidade está conectada com o futuro e diz respeito à forma como o homem atua em todos esses flancos para preservar a vida no planeta por tempo indeterminado.

A sustentabilidade pressupõe planejamento, defende a arquiteta Milene Abla Scala, coordenadora de grupo de trabalho na área junto à Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea). Milene tem estudado nos últimos anos alternativas para que as novas edificações propiciem usos mais sustentáveis de recursos como a água e energia, economizem nos insumos, garantam a acessibilidade, tenham conforto térmico, acústico, visual e olfativo, e maior eficiência de operação e manutenção. “Buscamos parâmetros para melhorar o desempenho dos sistemas, baseando-nos em metas e perspectivas de retorno”, diz.

Para os condomínios implantados, marcados por ampla diversidade de idade e condições estruturais, ela recomenda o mesmo princípio: definir estratégias e ações nas mais diferentes áreas, quantificando os benefícios gerados ao meio ambiente e à coletividade. “Um edifício em operação, residencial ou comercial, pode buscar melhorias contínuas, executando um item de cada vez, como a parte hidráulica, por exemplo.” Importante, reitera Milena, é que a estratégia conte com o amparo de especialistas e se baseie em métricas, em parâmetros de boa prática, de consumo ideal. A partir do momento em que os condomínios começam a trabalhar com dados registrados em planilhas, eles podem comparar seus resultados com os dos vizinhos e, assim, estabelecer metas de consumo, argumenta Milene.

O advogado Michel Rosenthal Wagner, autor do livro “Situações de Vizinhança no Condomínio Edilício” (Editora Millenium, 2014), afirma que essas coletividades podem fazer sua parte em múltiplas frentes, já que eles impactam em vários âmbitos do desenvolvimento sustentável:

  • • No econômico, onde se destacam como segmento relevante, com orçamento próprio e prestação de contas;
  • • No social, pois se configuram como “lugar obrigatório do convívio de pessoas, como empregadores e contratantes de prestadores de serviços etc.”;
  • • No ambiental, já que perfazem um “meio ambiente artificial urbanizado”, com características próprias de uso e ocupação do solo, gerando resíduos, utilizando a água do lençol freático, gerando fluxo de pessoas e automóveis, interferindo sobre as condições das calçadas e vegetação, produzindo ruídos, entre muitos outros;
  • • No político, porque podem se colocar como espaço “do debate, da deliberação, da participação na gestão democrática, representativa e participativa”;
  • • No cultural, por abrigarem diversidade humana (cores, raças, religiões, usos e costumes) e “mesmo a biodiversidade natural das cidades”; e,
  • • No histórico, porque propiciam “o registro da história das cidades, das gentes, do povo brasileiro e da humanidade”.

Em seu livro, Michel R. Wagner destaca que “o condomínio ganha importância como (…) partícipe da gestão das cidades, procurando garantir-se e garantir à cidade e sua população os elementos essenciais para a sua saúde, iluminação, areação, insolação e vegetação”. Daí a necessidade de começar a definir estratégias considerando este papel e respectivos impactos.

COLETA SELETIVA, BOM COMEÇO

Assunto disseminado entre alguns condomínios, a separação e reciclagem do lixo figuram como sinônimo de preocupação ambiental. Mas desde o recrudescimento da crise hídrica, o tema perdeu um pouco de terreno para a urgência na economia da água e energia. “Estes dois assuntos atingem diretamente o bolso”, analisa a gestora ambiental Adriana Jazzar, colunista do site da Direcional Condomínios. “Porém, a questão dos resíduos também é importante, uma vez que todas as pessoas físicas e jurídicas têm hoje obrigações legais de fazer a separação e disponibilizá-los para a coleta seletiva. Os condomínios devem implantar o sistema em suas dependências, caso contrário, estarão sujeitos às penalidades previstas na Lei 12.305/2010, que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).”

Segundo Adriana, “um dos maiores entraves” à expansão da coleta seletiva tem sido a destinação, ou seja, a recepção de todo esse material. Ela vê o momento atual como “favorável à reciclagem, pois para o mercado [fabricantes] tornou-se mais barato, por exemplo, reciclar vidro e papel”, que produzi-los a partir dos recursos naturais. Em entrevista publicada na versão online desta edição (Veja ao final desta reportagem), a gestora fornece dicas de destinação dos resíduos (incluindo óleo, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes).

Outra gestora ambiental, Valéria Quaglio, da organização “341 Caminho Suave”, acredita que semear práticas sustentáveis exige “trabalho de formiguinha”. No condomínio em que mora, no Terraças Lapa, na zona Oeste de São Paulo, ela está à frente de um projeto piloto de coleta seletiva. São 192 apartamentos distribuídos em duas torres, todos instruídos a descer com o material e depositá-los em contêineres coloridos.

“Começamos com a separação do vidro. Em 2014, coletamos de dois a quatro tambores semanais e os destinamos a uma cooperativa. Neste ano, resolvemos ampliar para outros resíduos.” A mensagem deixada é a de que “cada um é responsável por seu lixo”, observa Valéria. E os benefícios, além de ambientais, revertem para o condomínio, pois ao eliminar o serviço de coleta desses resíduos nos andares, “evitamos desgaste nos elevadores, economizamos energia e racionalizamos a hora de trabalho dos funcionários”.

Também no Condomínio Paradiso Vila Romana, da Zona Oeste, os moradores foram orientados a descer com os recicláveis. O programa de coleta seletiva foi aprovado em assembleia de condôminos em 2008, depois que uma comissão local estudou o assunto, relata o gerente predial Getúlio Fagundes Ramos. Com três torres e 168 apartamentos, o Paradiso instalou seis contêineres de mil litros cada na garagem, porém, sem separá-los por classe de resíduos (vidro, papel, plástico etc.). Getúlio considera mais eficaz a triagem nas cooperativas que no condomínio. Ele diz que a medida faz sucesso entre os moradores, engajados em identificar qualquer elemento estranho que apareça no meio de materiais tão nobres.

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